A palavra saudade já se tornou num chavão da língua portuguesa. É a palavra intraduzível, é a palavra do Fado, é a palavra que qualquer guia ensina aos turistas que visitam o país, etc. Mas apesar de ser, quiçá, uma expressão já relativamente banalizada pela sua ‘coqueluchização’, a verdade é que, quando sentida a sério, condensa em si o mais puro e pesado dos sentimentos do ser humano.
No contexto desportivo, o Clube de Futebol “os Belenenses” é sem sombra de dúvida a instituição que mais sente a saudade. As gerações mais velhas sentem-na relativamente às antigas glórias que testemunharam; as mais novas sentem-na de um tempo que não assistiram. E ao longo destes 100 anos de história, perante os muitos altos e baixos e os inúmeros ataques exteriores, a saudade do ideal fundador do Belenenses, da esperança de transformar aquele clube de gente humilde de Belém e Ajuda num grande de Portugal, foi sempre aumentando. Não há dúvida de que nos tornámos numa grande e eclética instituição do desporto português, mas as constantes contrariedades nesse processo levaram-nos com o tempo a trocar a esperança e o otimismo por um agridoce saudosismo. Os destemidos Rapazes da Praia envelheceram e tornaram-se lentamente em Velhos do Restelo de cabisbaixo.
Tal traduziu-se na perda de mística e no esquecimento de algumas tradições definidoras do Belenenses. Uma delas é o Dia da Saudade Belenenses, que se celebra a 6 de setembro. Foi esta data escolhida por ser o dia do falecimento de Artur José Pereira, o primeiro prodígio do futebol português e um dos fundadores do nosso clube. Instituído por unanimidade na Assembleia Geral de 7 de março de 1945, o Dia da Saudade Belenenses consiste numa visita anual ao mausoléu do clube (no dia 6 ou no domingo mais próximo), onde se encontra o túmulo do fundador, jogador e treinador do Belenenses. Com a edificação do mausoléu no Cemitério da Ajuda, em sua honra e também em memória de Matateu e Pepe, a visita ao mausoléu passou a dar-se a 23 de setembro, nas cerimónias de aniversário do clube.
O intuito deste blogue é recuperar e relembrar algumas destas tradições, e nesta secção em específico, a que chamamos “Saudade Belenenses”, partilharemos alguns textos que melhor simbolizem esse sentimento. Começamos por relembrar o homem a quem se deve a celebração do Dia da Saudade Belenenses: Artur José Pereira. Partilhamos hoje um conjunto de textos que traduzem bem a qualidade então sem precedentes do admirável ídolo dos nossos primeiros anos de vida.
