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CAMPEONATO DE LISBOA 1925/26 - PARTE III

Atualizado: 12 de jun. de 2020

O campo das Amoreiras, casa do Benfica, recebia no dia 28 de fevereiro de 1926 um jogo que faria história em vários aspetos. Primeiramente, foi um jogo que restabeleceu a confiança da equipa para o que restava da época, já que o Belenenses chegava a este confronto após mais uma derrota, desta feita frente ao Carcavelinhos (1-3). Um mero pormenor, é certo, quando o comparamos com os dois monumentos que naquele jogo se iriam erguer na história do clube: o ’Quarto de hora à Belenenses’, que definiria por gerações o estilo de jogo dos rapazes da praia e o ambiente nas nossas bancadas; e José Manuel Soares, o Pepe, prodígio do futebol português. Este último era então um desconhecido, ou não se tratasse da sua estreia na 1ª categoria do Belenenses, com apenas 17 anos.


Os contornos da partida são certamente conhecidos por todos os leitores. O Benfica superiorizou-se, e à entrada para os derradeiros 15 minutos da partida, vencia por 4-3. Alavancada pela crença de Augusto Silva, a equipa do Belenenses consegue empatar o resultado e, no último lance do jogo, é assinalado um penalty favorável aos azuis. O resto, como se diz, é história: Augusto Silva aponta para Pepe, “o penalty marcas tu!”, palavras a que o jovem tímido reage com um humilde “eu, Sr. Augusto?”. Após a confirmação, “sim, marcas tu!”, Pepe converte o castigo máximo e entra para os pergaminhos do clube e do futebol nacional. Resultado final, 5-4.


Muita tinta correu sobre este momento e os relatos que hoje chegam aos nossos dias são, como seria de esperar, míticos – embelezados por esdrúxulos adjetivos e apaixonantes narrativas, que elevam a partida a algo mais do que um simples jogo de futebol. É por isso curioso ver como a imprensa da altura escreveu sobre a partida. O exemplo que hoje trazemos é do “Ecos dos Sports”, num relato, digamos, sóbrio, para não dizer aliás um pouco tendencioso. Note-se como o jornalista, por exemplo, dedica maior profundidade à análise dos jogadores do Benfica do que aos do Belenenses; ou como tem uma descrição sorrateiramente mais apaixonada dos golos vermelhos do que dos azuis. A única menção ao público vem com o segundo golo do Benfica, omitindo a reação das bancadas aos últimos quinze minutos do jogo.

Trazemos este excerto não só para salientar estes pequenos pormenores – serão estes critérios de reportagem do jornalista sinal de incómodo com um Belenenses cada vez mais dominador ou uma inocente consequência do limite de caracteres da peça? Deixamos à reflexão do leitor – mas também para mostrar como, na ressaca do jogo, isto é, quando o tempo não tinha ainda mitificado o jogo, não passou despercebida a persistência da nossa equipa. Atente-se no destaque dos “assomos de energia” dos belenenses à entrada para o último quarto de hora.


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